O Brasil das meias soluções e o Setor Energético
Os serviços essenciais e as concessionárias que atuam áreas importantíssimas
ao ser humano mostram vícios preocupantes, principalmente a prevalência das
espertezas e armações sobre a boa Engenharia. Desde sempre a qualidade e a confiabilidade
do saneamento básico, energia, transporte coletivo, serviços de saúde, educação
etc. sofreram limitações impostas por conveniências até acadêmicas, mas,
principalmente pela omissão e desonestidade intelectual de nossas lideranças.
Algumas exceções foram notáveis em certos períodos e
marcaram cidades como Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba e algumas cidades
menores, menos conhecidas, mas empolgantes.
Governar é um ato complexo e extremamente exigente. Não é
tarefa para pessoas despreparadas e alienadas.
A redemocratização que vivenciamos a partir da década de
oitenta entronizou uma geração de líderes calouros para o exercício
democrático. Perdemos partidos e políticos que antes de 1964 se enfrentavam e
tinham cores ideológicas e éticas bem definidas. Talvez até não seja tão grande
a diferença, pois a semelhança do PMDB a alguns que estavam sempre ao lado do
Poder não é tão grande, mas falando da qualidade dos políticos...
Temos um cenário confuso e isso produziu leis e decisões
piores ainda.
A Constituição de 1988 é uma mistura entre o Presidencialismo
e o Parlamentarismo; nossos legisladores têm muita força se bem organizados,
mas não têm a responsabilidade de governar. Assim o Brasil 2014 está submetido
a uma coleção incrível de leis, decretos, normas e “articulações”, “blocões”,
bases etc., o paraíso para aqueles que usam isso contra o povo.
O que hoje denominamos de serviços essenciais veio com a
tecnologia e consciência adquiridas a partir da valorização da Ciência e
Tecnologia; antes a Humanidade, reduzida ao clero, Corte, guerreiros, escravos
e servos vivia pouco; a expectativa de vida do ser humano era curta, o foco era
normalmente a simples e curta sobrevivência.
Agora temos a oportunidade de viver muito, de que maneira?
As maravilhas modernas são importantes. Para todas elas,
contudo, precisamos de energia (elétrica, gasosa, líquida). De que forma usar,
produzir, transportar etc.?
No Setor Energético estamos mais uma vez em crise de
consistência.
As concessionárias mais voltam a servir de instrumento de
combate à inflação (em grande parte provocada pelo PAC da Copa assim como ao
renivelamento de classes mais pobres, inseridas numa classe média mais baixa,
mas, felizmente capaz agora de consumir mais alimentos, por exemplo).
Se a simples perda de qualidade fosse o mal de nossa época
ainda haveria como corrigir sem muitas dificuldades a maioria dos serviços e
produtos. O que assusta é, entendendo e observando com mais detalhes o Setor
Elétrico, o risco de faltar energia. Os erros acumulados e o quase racionamento,
que não se realizou principalmente porque o Brasil desacelerou (Pibinho) mais a
operação de usinas muito caras, que apresentarão a conta mais adiante.
Falamos que somos o país das meias soluções, pois é,
criou-se, por exemplo, o Mercado Livre de Energia Elétrica; pararam no meio do
caminho. Resultado, a maior parte dos brasileiros está num mercado cativo de
concessionárias que estranhamente parece que erram demais na compra e venda de
energia, na previsão climática, cargas, econômicas etc. O pessoal livre (eletrointensivas,
grandes e médios consumidores) usufrui os benefícios da livre escolha de
fornecedores e associação a consórcios para construção e operação de bons
aproveitamentos energéticos (BNDES?).
A intermediação da energia (algo criado com a lógica de que
a energia elétrica é uma commodity) viabiliza outros equívocos caros, tais como
vender energia mal e recomprá-la caro.
Pior é o oportunismo até acadêmico em torno de soluções
miraculosas. Subsídio é a palavra do momento, por acaso alguém desconhece que
esse é um caminho perigoso, realmente conveniente em alguns casos, mas criador
de mais uma sangria fiscal e operacional?
A viabilização da otimização da geração de energia depende
de muitos estudos, monitoramento de dados e fatos técnicos, análises e
relatórios, recursos de processamento e muito mais. É assustador sentir que
tudo isso está subordinado ao desejo eleitoreiro da Corte, entre outros talvez
impublicáveis. Ou seja, temos ou não transparência técnica? Para que o povo
paga tantos encargos, taxas e impostos e assim mantêm institutos, agências
reguladoras, centros de P&D e outras coisas? É justo estarmos sob risco de
racionamento?
O mercantilismo radical é outro fator de desorganização.
A obsessão pelo lucro, introduzida até em empresas estatais
graças à Participação de Lucros (pode? Outro tipo de sucumbência?), afasta bons
técnicos da visão social e política necessária às empresas estratégicas ao
nosso desenvolvimento.
Afinal, seremos um país sem governo ou não? Energia pode ser
objeto de especulação e desperdício? É interessante perceber que nossas
concessionárias silenciaram em relação à racionalização do uso da energia...
No Setor Energético a única panaceia é uma boa mistura de
competência, honestidade e patriotismo.
Para concluir, será que nosso povo tem consciência do
significado e consequências de racionamento de energia? Esqueceu 2001?
Cascaes
16.3.2014
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