Saudades dos tempos em que a Engenharia era levada a sério.
Tive a imensa felicidade de estudar em boas escolas, o que
não significa exatamente a aprovação de todos os mestres (e vice versa). Coisas
de estudante.
Mais ainda, em casa meu pai, técnico eletricista, era uma
pessoa inteligente e com muita experiência profissional, disposto, contudo, a
conversar comigo sobre tudo o que fosse colocado, eu um simples pirralho.
Determinado a ver o filho formado (faleceu antes,
infelizmente) em uma boa escola, tinha em mente que o Caio faria Engenharia no
IEI, Instituto Eletrotécnico de Itajubá.
Cursinho em São Paulo no Di Túllio, 1963, que maravilha [o
artigo sugerido dá uma das facetas desse ambiente (Di Tullio, 2.006) ]. Além de viver um
ano na capital dos paulistas quando era possível caminhar pela cidade, lá havia
uma quantidade enorme de oportunidades de lazer, cultura e aprendizado sem
maiores custos que a passagem do bonde ou ônibus, aprendi a viver e sobreviver.
As pensões associadas à fome da juventude eram ótimas. O pingado de manhã com
pão e manteiga no balcão do bar mais próximo, genial!
O problema era o sotaque de “barriga verde” e a utilização
da segunda pessoa do singular ao conversar com alguém, os paulistas se
ofendiam. Mas, quem entendia, era só abrir a boca e sentiam que eu era
catarinense. Para tirar dúvidas eu perguntava: “Como é que tu sabes?”, bem
cantado e as gargalhadas dos amigos encerrava a dúvida que persistia, brabos
por quê ficaram?
No cursinho alguns professores marcaram a presença para
sempre. Aulas de Física, Português, Química, Matemática etc. vinham
acompanhadas com lições de moral e, principalmente no caso do Professor Alfeu
Tersariol, piadas em cima dos corintianos. Nos intervalos íamos para a sacada
do andar em que estávamos para jogar pedaços de giz na cabeça de quem passasse
na calçada...
O Professor Tore Nils Olof Folmer Johnson (Tore Nils Olof Folmer Johnson - um Mestre) , grande mestre para
nós (vestibulandos) em Física, além de suas aulas excelentes, deu o valiosíssimo
conselho: criança deseja, adulto quer.
O vestibular, que situação estranha. Fazer testes sem ter
certeza de qual carreira seguir. Agora sei, depois de me aposentar, afinal quem
naquela idade poderia saber o que era Engenharia, exceto filhos de engenheiros?
No curso em Itajubá, IEI e depois EFEI, agora UNIFEI
(infelizmente), vivíamos entre aulas, reuniões de diretório e bagunça. O ano de
1964 permitiu um começo agitado e o curso criou desafios enormes,
principalmente para quem resolveu casar no início de 1966.
Mestrado em Florianópolis em 1972 e uma carreira
eminentemente técnica criaram uma preocupação permanente com a lógica, as leis
da Natureza, a Matemática e a Física, e a admiração pelas grandes obras.
Os computadores foram aparecendo, primeiro os mamutes cheios
de frescura, exigiam até ar condicionado, depois os PCs, agora um mundo de
possibilidades impressionante e crescendo sempre.
Computadores, trabalho em ensaios de campo, comissionamento
e avaliação de grandes instalações, estudos e análises de Sistemas de Potência
etc. sempre justificaram o básico: as leis da Natureza não se alteram ao sabor
de discursos e regras de economistas e advogados e na área das Ciências Exatas
impõe-se estudar sempre e mais, afinal as exigências técnicas crescem.
O Brasil grande nasceu na década de sessenta e morreu nos
anos oitenta, talvez mais pelo ufanismo e otimismo dos militares e as pressões
maldosas de grandes grupos econômicos que geraram a falência de nosso país. Ao
final da década de setenta já estávamos quebrados; não posso esquecer a
declaração de um alto executivo da Siemens na Alemanha, quando participávamos
de uma missão técnica na Alemanha, dizendo que nos recebiam por dever de
ofício, mas, 1977, o Brasil estava quebrado e fora dos seus interesses
comerciais. Um jornal inglês comparava o Brasil a um trem descendo sem freios.
Será que a história está se repetindo?
Temos agora um Brasil confuso e somos obrigados a ouvir
declarações absurdas de grandes “autoridades” políticas mais preocupadas com o
tempo de horário eleitoral do que com o futuro do Brasil e seu povo. Uma delas:
fazer arenas, estádios, é simples (equipe de reportagem do Jornal Nacional, 2014) . Graças a esse “simplismo”
ganhamos acidentes vergonhosos nesses tempos “democráticos”.
Nossa esperança no início da década de oitenta era muito
grande.
As comemorações dos trinta anos das Diretas Já, medíocres,
não refletem nossa crença e esperança na Democracia quando o período militar
fracassou.
Está muito claro atualmente que os piores herdeiros da
República assumiram o processo democrático...
Duro é ver que até a Engenharia Nacional dá lugar (e informações)
para a chinesa e outras. E o futuro do que a “Ditadura” criou de positivo? Vai
para o Cassino Mundial? É desmontado em estratégias argentinas?
Não merecemos o império dos medíocres, ou ele é inevitável?
Isso estará na Arqueologia do Saber do Brasil quando for escrita como o fruto
da ignorância atual? Até faz sentido,
afinal o analfabetismo social e político no Brasil é imenso.
Cascaes
25.1.2014
Di Tullio.
(20 de 08 de 2.006). Fonte: Meu Bazar de Ideias:
http://santospassos.blogspot.com.br/2006/08/di-tullio.html
equipe de reportagem do Jornal Nacional. (23 de 1 de
2014). Dilma Rousseff afirma que construir estádios é relativamente simples.
Fonte: Jornal Nacional:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/01/dilma-rousseff-afirma-que-construir-estadios-e-relativamente-simples.html
Tore Nils Olof
Folmer Johnson - um Mestre. (s.d.). Fonte:
bIFUSP: http://www.if.usp.br/bifusp/bifold/bif0301.html#bif0301-01
Nenhum comentário:
Postar um comentário