quarta-feira, 20 de março de 2013

Shopping Centers ou cidades.



Criar e vender espaços dentro de ambientes fechados tornou-se uma forma de exclusão social e inibição das cidades. Do lado de fora o trânsito, a violência, as faixas de servidão que denominam de calçadas, pessimamente mal feitas e mantidas (no Brasil), a poluição e lojas, bares, restaurantes que heroicamente resistem ao apelo de se instalarem dentro dos grandes mercados de luxo, ou não atendem os critérios de existência nesses lugares. Isso foi percebido em muitos países europeus que estabeleceram critérios rígidos para a criação de lojas de departamentos e shoppings centers.
As cidades precisam ter vida, socializar, transformarem-se em ambiente seguros e agradáveis. O ideal é que possamos sair de casa andando sem medo de olhar para baixo, sem o perigo de agressões de animais bípedes e quadrúpedes, sabendo que se ventar nenhum galho de árvore cairá sobre você, caminhar por vias públicas feitas para agradar os olhos e os sentidos sem medo e preocupações próprias de selvas das mais perigosas.
Um bom exemplo é Blumenau. Lá o comércio na Rua 15 de Novembro era exemplar. Aos poucos as lojas 1,99 e agências bancárias foram tomando o lugar das tradicionais lojas com nomes complicados e a criação de um shopping center mais as enchentes sepultaram a cidade entre automóveis, ônibus, caminhões, destroços e lembranças.
Pior ainda, em muitos congestionamentos urbanos brasileiros (para não repetir o nome cidade) prédios gigantescos aparecem em ruas estreitas com garagens automáticas, parecendo canhões expelindo e vórtices sugando automóveis. Pedestres, sim, aqueles que não podem usar quatro rodas...
Cidade com vida justifica proteção policial, sistemas de segurança sofisticados, calçadões, jardinetes, bancos para sentar, banheiros públicos,  boa iluminação, decoração e espaço para grupos artísticos além de outras maravilhas. Quem decide o que deve existir é o povo, é democrático, e não administradoras de templos de consumo. E que templos! Universalizaram cheiros, marcas e até modas. Cidades mais aristocráticas, Curitiba é um bom exemplo, parecem criar uniformes para quem mergulha nesses lugares.
Eles têm méritos. Minhas netas que o digam, seus olhos brilham diante de suas atrações, mas que adultos serão tão distantes do espaço externo onde chove, faz Sol, frio, vento e a qualquer descuido, país tropical, apresentam flores silvestres, matas em terrenos baldios e outros cenários que fascinam turistas de países gelados.
Perdemos o fio da meada. Esquecemos que o estilo Brasil poderia existir no dia a dia e não apenas em parques onde para chegar temos que usar o transporte coletivo ou alguma forma de veículo. Não aprendemos com os europeus a valorizar aspectos e culturas locais.
Talvez isso esteja mudando em alguns lugares. No nordeste brasileiro encontramos (em viagens recentes) lugares apaixonantes.
O desafio agora é a sustentabilidade. Ou seja, já não é mais simplesmente por capricho que devemos analisar projetos, e sim pela necessidade de não piorar condições climáticas que dão mostras de piorarem. É um grande desafio que pode começar pela discussão da validade da construção de mais shoppings centers em nossas cidades.

Cascaes
16.3.2013

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