Potencial de fiscalização inexplorado
Caminhar é bom, saudável e estimulante na análise das
cidades. Andando sentimos suas belezas e defeitos, às vezes de forma
desagradável. Pode se transformar em processo angustiante quando vamos
descobrindo imperfeições desnecessárias e permanentes. O caso mais grave é o
desprezo de grandes empresas pela população, realizando serviços ruins ou
abusando de seus “direitos” de utilização de espaços públicos.
Se tivermos algum treino em relação ao que deve existir, será
fácil descobrir detalhes que estão fora de normas, leis e conveniências
sociais. Podemos ser bons fiscais, ainda
que carentes de apoio para questões mais delicadas.
As diversas concessionárias que atuam numa cidade mantêm
milhares de profissionais em trânsito, desde a leitura de instrumentos até a
direção de veículos de grande porte. Em suas atividades tornam-se mestres no
que os atrapalha. Conversando com eles podemos descobrir coisas que nem os
melhores engenheiros das concessionárias talvez saibam.
Ou seja, existe um ou mais exércitos de fiscais que não são
usados.
Nossos prefeitos, querendo, poderiam, negociando com sindicatos
e/ou os concessionários, aproveitar o trabalho de entregadores de
correspondência, policiais, motoristas etc., enfim, de todos aqueles que
trabalham regularmente andando de casa em casa, rua a rua, num acordo de
registro de sinais de degradação de serviços, calçadas, abrigos, terrenos...
Em Curitiba, por exemplo, muitos deles podem usar o transporte
coletivo urbano sem pagar passagens, que tal cobrar em contrapartida a
prestação de algum serviço adicional para o qual seriam treinados, incutindo
nessas pessoas, inclusive, um espírito de cidadania de que carecemos?
O trabalho pode ser simplificado com gravadores de imagens e
sons sincronizados com balizas eletrônicas e sistemas de leitura e análise “inteligentes”.
Empreendedores em tecnologia teriam uma grande oportunidade
de racionalizar serviços como quase o fizemos em 1988. Na URBS chegamos a comprar
unidades de aquisição de dados para vigilância de ônibus. Infelizmente, por
razões que só Deus sabe tudo foi abandonado.
Associando aparelhos, começando com simples fichas para
preenchimento semanal e manual até a especificação e aquisição de aparelhos dedicados,
há como criar uma tremenda estratégia de monitoramento da cidade.
Ou seja, rapidamente, em poucos meses, a Prefeitura teria em
mãos relatórios de extremo valor, algo muito melhor do que a utilização
exclusiva de “cal centers” que dependem da boa vontade da população para
realização dos seus serviços.
Obviamente isso não exclui a responsabilidade do cidadão
comum que, querendo, poderá ajudar muito no aprimoramento da vida urbana
(usando os sistemas existentes de registro de ocorrências). Vimos, por exemplo,
reportagens pedindo que denunciem pichações, pontos de drogas e outras coisas
desse gênero. É o controle da delinquência.
Podemos também insistir na ação de vigilância de
comportamentos antissociais menos agressivos, na desatenção das próprias
concessionárias e tudo o que faz de uma cidade boa ou má. É só querer.
Cascaes
16.2.2013
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