domingo, 2 de maio de 2010

Engenharia e padrões técnicos

Padrões técnicos, EAD e a Engenharia


Não existe Engenharia quando não podemos medir, calcular, ensaiar, definir parâmetros, indicadores, condições limites, enfim, quando não sabemos usar a Matemática e as leis da Natureza para qualquer projeto.
Mais ainda, não existe Engenharia sem a lógica da equação “custo x benefício”. Não chamem um Engenheiro para fazer uma obra sem custos, ele ficará confuso, pois é educado a se impor limites. O profissional desta área precisa ter dentro da cabeça que o preço excessivo de um projeto será um ponto negativo em seu trabalho, assim como a má qualidade do serviço o desabonará.
Aliás, notamos facilmente que empresas, concessionárias, autarquias e até barzinhos desprezam a qualidade, o bom atendimento, a preocupação com o cliente. Muitos sobrevivem graças à forte propaganda, outros por inércia e alguns simplesmente porque não têm competidores, são monopolistas, cartelizados, aplicam a força de suas posições.
Qualidade e custo, contudo, exigem métodos certificados, normas técnicas e o rigor da Justiça para a punição daqueles que erram. Como no Brasil a Justiça anda sobrecarregada com fantasmas[i], mensalões, crimes comuns etc. ainda não chegamos ao ponto de acioná-la de maneira eficaz para o cumprimento de contratos de compra, concessão, regulamentos e especificações de produtos e serviços.
Felizmente aos poucos a mídia vai descobrindo esse filão de reportagens...
Vale pensar, por exemplo, nos passeios, calçadas, nos circuitos de pedestres sob e sobre os quais as prefeituras deixam fazer de tudo e instalam, eventualmente de forma precária, serviços essenciais sob responsabilidade delas.
O tema calçadas merece muitos cuidados[ii], que em pleno século 21 ainda não temos em Curitiba, cidade considerada (perigosamente) modelo de urbanismo[iii]...
Afinal, qual é a resistência ao escorregamento[iv] aceitável nas calçadas, tão bem definido para pisos interiores? Que tipo de ensaio padrão seria feito para medir esse parâmetro? Um detalhe técnico dessa espécie evitaria muitos acidentes.
Mais ainda: que padrões seriam exigidos para a canalização de águas servidas e para as águas pluviais? Os postes estariam onde? Qual seria o padrão mínimo de iluminamento noturno? Como fazer decoração nos passeios? Se partilhando espaços com ciclovias, que segurança adicional seria determinada? Arborização, de que tipo? Como calcular a largura dos passeios em função do fluxo de pessoas (caminhando ou com bicicletas)? Os estacionamentos e entradas de garagens seriam construídos de que jeito? O meio fio, os desníveis, que tolerâncias? Garantem acessibilidade e segurança? Finalmente, deixando de falar de muitos outros aspectos importantes de nossos passeios, é correto deixar as calçadas sob responsabilidade dos proprietários dos imóveis[v]? A responsabilidade pela construção e manutenção não poderia ser das prefeituras[vi]?
Nossa civilização transforma-se rapidamente. Vemos instalações superadas, cidades perigosas, gente sofrendo porque demoramos a corrigir situações de risco, no mínimo anacrônicas.
Não valorizamos o EAD[vii], aceitamos carimbos e números de registro, plantas e papéis que não auditamos, deixamos as coisas acontecerem, afinal temos amigos, convênios, bolsas, empregos que não podemos perder.
EAD? Sim, o profissional século 21 precisa estudar sempre.
Tem tempo para freqüentar universidades (aliás, antiecológicas, quando exigem o deslocamento de milhares de estudantes para salas de aula diariamente)? Com o Ensino via internet, DVDs, “pen drives” e até em microcomputadores dedicados, pré programados, que adquiriria com o curso completo [viii]poderia estudar quando e onde quisesse e pudesse (mais facilmente do que se for obrigado a se deslocar toda noite para admirar algum mestre iluminado).
Normas técnicas, padrões construtivos, manutenção rigorosa, laboratórios especializados, equipes bem formadas, EAD e literatura técnica abundante, de baixo custo e acessível na área de Engenharia[ix], temos isso tudo no Brasil?
Catástrofes[x], acidentes, poluição, agigantamento das cidades, tudo recomenda máximo rigor técnico e atualização de critérios de acordo com padrões de sustentabilidade e urbanidade saudável.
Precisamos de excelentes engenheiros.

Cascaes
2.5.2010

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[i] http://www.joaocarloscascaes.com/2010/05/pagamos-impostos-para-onde-vai-o-nosso.html
[ii] http://cidadedopedestre.blogspot.com/2008/07/ofcio-propondo-estudo-sobre-especificao.html
[iii] http://jcbcascaes.blogspot.com/
[iv] De todos os indicadores talvez o mais importante, algo a ser decidido por aqueles que analisarem alternativas e puderem estabelecer padrões, é a resistência ao escorregamento, que indica a segurança que o usuário possui ao caminhar pela superfície, principalmente em presença de água, óleo ou qualquer outra substância. O teste ao escorregamento é medido pelo coeficiente de atrito e temos valores indicativos da Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (note-se que esses valores poderão ser redefinidos com mais rigor na limitação para calçadas externas, a critério das autoridades).
[v] http://cidadedopedestre.blogspot.com/2009/12/estatizar-as-calcadas.html
[vi] http://cidadedopedestre.blogspot.com/2010/01/as-calcadas-devem-ter-mesma-solucao.html
[vii] http://eadinteligente.blogspot.com/
[viii] Exames podem ser feitos em laboratórios, hotéis, balneários etc., dependendo do luxo que o candidato ao diploma puder pagar, sem as malditas salas virtuais e cursos provavelmente infinitamente mais acessíveis a pessoas com restrições sensoriais e/ou motoras, os tecnocratas do MEC deixam?
[ix] http://ltde.blogspot.com/
[x] http://mirantedefesacivil.blogspot.com/

2 comentários:

  1. E há mais uma coisa que principalmente o engenheiros crêem que não existe e é fundamental: a política.
    Fazer uma obra bem feita é questão técnica, mas que obra priorizar, onde priorizar, por que priorizar, são questões políticas.
    Aí é que temos a liberdade (e o dever) de interferir, como cidadãos que somos.
    Um abraço.
    Francisco Pucci.

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  2. Cascaes.

    Oportuna sua menção a questão das calcadas. Não e de hoje que percebo que o progresso tem trazido, claro, efeitos colaterais indesejados. Neste caso, a ocupação das calcadas por equipamentos que dificultam nosso andar.

    Não se trata de lançar olhar retrogrado ao modernismo. Muito pelo contrario, talvez para “sermos modernos” também devamos ser humanos. Vemos isto nos telefones celulares, nos equipamentos eletrônicos com funções as mais variadas, nos pequenos confortos acessórios nos veículos, etc.

    Voltando as calcadas, pelo menos em Curitiba percebo que elas, diabólica e paulatinamente, passam a ser ocupadas por placas de sinalização, postes (sustentação de cabos elétricos, de telefones, de tvs a cabo, de lâmpadas de iluminação), cabines de telefonia publica, armários de empresas telefônicas, caixas de coleta de correspondência, rampas de acesso a garagens, e um sem numero de outros usos.

    E os pobres dos pedestres?

    Em algumas vias (no caso da nossa cidade as vias expressas) a calcada foi dividida, um trecho ao lado das construções e outro (extremamente perigoso) ladeando a canaleta dos ônibus expressos. Neste primeiro trecho ficam todos os equipamentos acima relacionados...

    Me parece ser função da engenharia, sob o ponto de vista urbanístico, dar um melhor tratamento ao assunto. Se por um lado uma parte importante da via publica esta reservada aos veículos e uma segunda (em alguns casos) para as ciclovias, resta uma terceira – a mais importante na minha opinião – que deve ser compartilhada por nos, pelos animais de estimação (com seus dejetos) e toda a parafernalia que o progresso criou.

    Isto sem falar nas pessoas com algum tipo de restrição de locomoção (cegos, usuários de cadeiras de rodas, etc)!!

    Não foi mencionado acima, mas, um dia, lance um olhar sobre a sinalização de uma via. Perceba a quantidade de placas, uma seguida da outra, avisando qual a velocidade máxima admitida, que e proibido estacionar, ultrapassar, parar, etc. Será que a engenharia não nos ajudara, um dia, substituindo estes sinais por avisos dentro dos carros? Vamos reduzir a poluição visual? Talvez um olhar mais bucólico ofereça mais humanidade para as metrópoles!

    Luis Eduardo Knesebeck

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